Fonte: O TREM Itabirano, nr.78 – mar/2012.
Carlos Trigueiro, do Rio de Janeiro-RJ.
Em 2009, escrevi O jeito brasileiro – um fenômeno cultural e ofereci o artigo a revistas nacionais. Não houve interesse. Diferentemente, foi publicado nos Estados Unidos por Romance Notes e, na Argentina, por DeSignis-14 Gusto Latino, revistas acadêmicas com distribuição no mundo hispânico, em países europeus de línguas românicas e em outros países. Ao embarcar nO TREM Itabirano de janeiro, revi, através de suas janelas, algumas paisagens imutáveis do “Jeito” brasileiro.Foi-me inevitável rememorar o artigo com suas abordagens histórica, cultural e sociológica, mostrando o lado criativo do “Jeito” na política, na economia, no dia a dia, na música, no futebol, bem como suas variações e mutações na violência urbana, na pirataria, na corrupção, entre outros aspectos. Sendo um texto muito longo, transcrevo aqui exclusivamente as conclusões do artigo:
Apesar da grande influência cultural luso-ibérica na mentalidade do povo brasileiro, seria infundado atribuir somente ao passado colonial o rol de fracassos civilizatórios, mazelas e assimetrias sociais do país. Mesmo porque o lado bom da criatividade brasileira deve muito ao mosaico cultural que se instalou na colônia.
Além disso, após 187 anos de independência e 120 anos republicanos, a sociedade brasileira tende a comportar-se motu proprio, ignorando os poderes coercitivos do Estado, ou corrompendo-os. E não é excessivo admitir um ciclo vicioso nisso tudo, pois o fulcro da deformidade está no poder público ausente, incapaz, corrupto, ou omisso na formação do civismo e da cidadania. Daí essa índole individual contagiosa – à revelia do estrato social –, inclinada a subterfúgios imediatos, propensa à anomia e a subverter o dístico Ordem e Progresso da bandeira nacional. Daí essa índole horizontal e vertical, passível de variações e mutações, e que embute um “Jeito” economicamente mais predador que construtivo; mais
espoliativo que distributivo; administrativamente mais burocrático que empreendedor; politicamente mais inclinado ao conchavo do que ao confronto; judicialmente mais prolixo e moroso que justo; sociologicamente mais anárquico que disciplinado; moralmente mais fraudador que honesto; de costumes mais permissivos que castos; historicamente emasculado de consciência crítica sobre o passado, indiferente aos desafios do presente, e incapaz de projetar o futuro.